“-Sabe aquela menina nova, que todo mundo acha o máximo?
-Sei, o que que tem?!
-Ontem, no parquinho, ela me disse que você era
fofoqueira, e que falou mal de mim, mas como eu sou sua amiga e não acredito nela,
acho melhor a gente ficar de olho aberto!
Olha ela ali, rindo e apontando para a coitada daquela
menina, sentada sozinha e vermelha de vergonha!
E os outros, rindo como se ela fosse a dona da
verdade!!
-Ah sério?! Não acredito que ela foi capaz de fazer
isso!! Eu nunca nem sequer conversei com ela!
Coitada da menina, não tem culpa de ser tímida e não
falar com ninguém..que vaca metida!!
-Eu confio em você!! Você tem mais do que razão para
ficar com raiva dela!
Vamos fazer o seguinte? Que tal se a gente pegar o
facebook dela, e espalhar para todo mundo que ela é super fácil, rouba namorado
das outras e ainda por cima, é fofoqueira e maldosa?
-Mas como vamos fazer isso??! Vão ver que somos nós, e
vai ficar feio pro nosso lado...imagina a vergonha!
-Ah, mas é só criar uma conta falsa, e postar fotos e
evidências!
Vamos falar de tal forma que todo mundo vai acreditar!
As pessoas acreditam sempre no pior, e se colocarmos de forma lógica, vão cair
que nem patinhos na nossa lagoa!
-Ah, então vamos! Aquela vaca vai ter o que merece!!!”
E é assim que começa.
Como num dominó, em que uma peça empurra a outra, até
todas estarem no chão.
Mas, na maioria desses casos de intrigas e inveja,
sempre sobra uma ou duas peças de pé, olhando para as outras, deitadas no chão como
simples poeira, sem importancia nenhuma, a não ser terem lutado e terminado a
guerra, a guerra de outra pessoa.
Muitas vezes, em uma discussão, uma pessoa acaba concordando
com a outra pessoa, simplesmente pela admiração, pela fala eloquente, pela paixão
com que o interlocutor expõe suas idéias.
Quem resiste a argumentos sólidos? Ou, até onde essa
pessoa acredita, um fato?
Muitos ideais e sonhos são adquiridos dessa forma.
Temos que ter certeza, ao emprestar a luta de alguém, do
PORQUE estamos lutanto aquela luta específica.
Será simplesmente de emprestarmos a emoção da outra
pessoa, e sentir aquela indignação?
Será por nos sentirmos, por nossa vez, enganados,
ludibriados e feito de bobo da corte?
Será por puro tédio, pela emoção de criticar, pela
paixão de brigar, pela vontade de ser contra alguma coisa, ter um motivo para
gritar?
Quem pára por um instante, e analisa o porque de estar
protestando, o porque de estar brigando, o porque de estar argumentando?
Será que, no calor da conversa, não acabamos nos
vendendo por pouco?
Comprando os ideais de outrem, pelo modo como esse
ideal foi exposto?
Quem respira fundo, e na hora do calor, se pergunta o
porque de estar indo, com as cores da guerra e pedras nas mãos, o porque de
estar protestando?
O que quero dizer é que, muitas vezes vemos numa
discussão, pessoas que defendem como loucas um ponto de vista, e quando
confrontadas sobre os motivos, elas tem as palavras decoradas, como tiradas de
uma cartilha escolar.
Jogam essas palavras frágeis e descuidadas no rosto da
pessoa que confrontou ela, e recua cada vez mais para um caminho sem saída.
Como essas garotas...Quem disse que a garota nova
realmente disse aquilo?
Vamos chamá-las de A, B e C.
A garota A é a que relatou algo, um suposto
acontecimento.
A garota B é a que acreditou na A.
E a garota C é a suposta vaca.
Vamos colocar dessa forma...
A garota A alegou que a C falou mal da melhor amiga, e
estava desprezando a garota paisagem.
Jogou a bomba e teve o momento perfeito para
apresentar um fato, que seria como a garota C era simplesmente uma vaca que
desprezava qualquer um.
E a garota B comprou a idéia, acreditou nos fatos
expostos e, por sua vez, sentiu a raiva e a revolta de estar sendo uma suposta
vítima.
Mas não procurou saber se era verdade.
Não tentou simplesmente se aproximar, quem sabe perguntar
diretamente, de forma calma, o porque de estar espalhando mentiras a seu
respeito.
Ou, de forma mais sutil, não tentou conhecer melhor a
situação, se aproximar e analisar o perfil da garota C.
Será que a garota B foi esperta e, apesar do que foi
dito, procurou se informar melhor?
Será que a garota B perguntou à garota A se ela
defendeu a suposta “amiga”, será que perguntou o porque da garota C ter feito
aquilo?
Nãao, ela simplesmente adotou a idéia e adorou se
sentir uma vítima, uma pobre coitada que nunca fez um nada para ninguém.
No meio dos holofotes, cabia à garota B tomar uma
atitude.
Ela, ela e ela.
E como um peãozinho num jogo, onde cada peça tem seu
lugar, lá foi ela.
Mas quem prova que a vaca C realmente mugiu aquilo
tudo?
Ou se o fez, o porque de ter feito?
De certa e qualquer forma, não interessa, certo?
Ela tinha uma razão para ladrar, se sentir magoada e
agitar suas emoções.
Finalmente, ela tinha uma desculpa para se levantar e
criticar, meter o pau mesmo, porque ELA E-R-A A V-Í-T-I-M-A.
Não questionou, não averiguou.
Simplesmente, aceitou.
Muitas vezes vejo perfis falsos de acusações, de
protestos.
Vejo pessoas que concordam com coisas, sendo que
muitas vezes tem o rabo preso e sujo.
Vejo pessoas que roubaram e implicaram, que sujaram as
mãos na merda, e estão lá, esbravejando contra tudo o que podem esbravejar.
E quer saber o que?
Tenho pena dessas pessoas.
Porque ainda não discutimos o papel da menina A.
Ela é a peça que fica de pé, quando todas as outras
caem.
Ela continua rindo, porque outros se indignaram e
lutaram sua luta, enquanto ela contemplava a platéia se mordendo, de longe, sem
se sujar.
Ela soltou a bola no campo, e deixou que as bestas se
atirassem, empurrando e saltando, para alcançar e pegar essa bola.
Porque se voce parar para questionar essas pessoas que
se sujam para lutar essa luta, e perguntar o motivo, o lugar e se tem certeza,
elas vão lançar simples argumentos que podem ser falsos.
E como folha soprada ao vento, esses argumentos ficam à
deriva.
Mas com certeza? Cadê a certeza?
Talvez, em algum ponto da estrada, um pouco de raciocínio
invada a mente da pessoa furiosa, e ela se pergunte se tudo aquilo pelo que ela
lutou era real.
Mas ela nunca vai saber, porque nunca parou para ouvir o outro lado.
Mas ela nunca vai saber, porque nunca parou para ouvir o outro lado.
E porque quando se está com raiva, ou você ouve o que
quer ouvir, ou tudo o que ouvir, será somente mais uma mentira ao seus ouvidos.