Então, a solidão e a frieza dão lugar a um sentimento amigo, um sentimento tão antigo quanto os dias que eu carrego em mim. Com os mesmos anos que eu carrego.
Eu me sinto incomodada, como se eu não coubesse em mim, como se tudo fosse pequeno demais, como se eu fosse grande demais. Como se minha alma não devesse estar tão presa.
Considerando que eu tenha algo pra ser libertado.
Eu raramente páro pra pensar se eu acredito ou não em algo além, atualmente. Não como antes, ao menos.
Eu sabia, sim, que com o passar do tempo, eu iria me acalmar, minha alma iria sossegar, e a dor, a inquietação, os sentimentos inevitáveis e quase nunca justificáveis em mim, iria adormecer, pra despertar apenas por vezes...
Mas eu não sabia que o adormecer iria me deixar em um estado de constante torpor, como se todo o mundo se resumisse ao meu mundo, minha ilusão, minha fantasia.
Não sabia que, então, eu vivia apenas das emoções emprestadas, como se eu, por mim mesma, não fosse capaz de...sentir.
Na verdade, antes eu sentia, sim, com uma intensidade assustadora.
Nunca foi bem encaminhada, eu não sou boa em determinar os lugares e ordens de nada, muito menos dos sentimentos.
Eu não me apaixonava por quem poderia gostar de mim, eu não alimentava ilusões em situações que eu sabia, poderiam se cumprir.
Eu queria o impossível, sem saber que era apenas uma desculpa a mais pra sentir, porque o sofrimento sempre vem em intensidade maior que qualquer outro sentimento.
E o poder de manipular os sentidos é um dom. Algo que as pessoas nem sequer enxergam, pois acham que tudo vem como uma corrente de rio, inquebrável, muda os cursos apenas por fatores naturais.
Então, eu resolvia que queria ser boêmia, queria beber e fumar, sofrer e escrever poesias.
Mas não dava certo, me isolar assim, pois isolada eu não tinha motivos pra sofrer, e sofrer com algum motivo determinado é mais gostoso. Afinal, podemos colocar a culpa em alguém, ou algo, que sabemos ser mera ilusão, desculpa esfarrapada por assim dizer.
Me dizia, também, que eu era muito nova, que eu era muito criança, uma criança velha talvez, mas criança. Que não sabe nada da vida, que não sabe nada do mundo.
Outra desculpa.
Verdadeira, mas ainda assim, uma desculpa. A solidão nunca foi um problema pra mim, mas um alívio.
Sem máscaras, sem expectativas, sem vontades e frios na barriga.
Mas então, eu apenas procurava coisas controláveis.
Sei que agora, não é diferente. Nunca seria.
E ainda tenho a vantagem de ser segura.
Li no blog de uma grande amiga que a fraqueza é um dos males, o maior deles, nos humanos. A fraqueza é como uma cicatriz imensa na face, um talho sempre aberto e sangrento.
Pode ser que sim, assim como, sei bem, é inevitável.
As pessoas podem não nascer fracas, e não sem, nem quero saber o que as torna débeis. Mas algo muda por dentro.
Posso ser, ou parecer covarde, fraca, posso parecer volúvel e incerta.
Eu sou.
Mas aceito minhas fraquezas. E me envergonho com orgulho delas.
O problema maior é que não é o suficiente, o quanto eu poderia sentir?
Eu não sinto, eu não me importo, eu nunca me importo.
Eu queria ser capaz de levantar e correr, de agarrar com unhas e dentes as situações e mostrar quem é que manda na situação.
Mas eu não sinto o suficiente pra isso.
Os sentimentos meio que são congelados, e meu microondas é temperamental. Aquece quando bem entende.
E eu não entendo.
Uso as pessoas, uso as situações a meu próprio bem, bem sei, e nem sempre me envergonho.
Como alguém pode viver sem as emoções?
O que me deixa mais infeliz é saber que quando eu sinto, eu sinto demais. E quase sempre não é algo agradável.
Eu me vejo em situações em que tenho que achar algo agradável, tenho que rir, e achar algo divertido, ou me alegrar e ficar com uma cara feliz, naturalmente feliz, porque é o que esperam de mim, é o que esperam de qualquer humano.
Mas eu não consigo.
Não acho graça na maioria das coisas que deveria, não fico feliz como deveria. Não me comovo, como deveria. Por quê?
Estou acostumada, é claro, a vestir as máscaras, e enganar e me enganar.
Mas e quando eu não consigo, e então?
Não me livro da sensação de sujeira, de poluição na alma, da sensação de que nunca seria o que qualquer um poderia esperar, mesmo que saiba que ninguém tem o direito de esperar nada de ninguém.
Mas não me importo, não me importo de decepcionar ninguém.
Nem de me decepcionar.
Odeio meus pesadelos e a vulnerabilidade que tenho a uma unica pessoa, ao meu escudo, meu protetor.
Mas será que isso não se deve ao fato de que, perdendo minha moldura, eu estaria vulnerável, estaria quebrada em milhões de pedaços irrecuperáveis?
Não se deve, então, ao fato de que eu precisaria me preocupar comigo mesma, precisaria encarar sozinha o mundo real?
E então, eu não estaria, mais uma vez usando e me enganando, e enganando-o por sua vez?
O que me torna?
Deveria ficar feliz quando ganhei outra sobrinha, deveria estar feliz quando uma criança me abraça, deveria estar feliz de verdade com coisas que todos ficam felizes??
E por que, por quê eu não consigo?
Sempre o desespero, a insegurança, a dúvida e a incerteza, a sensação de abandono e desamparo...sempre a sensação de estar perdida, irremediavelmente...por quê?!
Mas eu não me importo.
E, caramba, como eu queria me importar.
Eu passei anos escrevendo que queria não sentir nada, e então, quando eu realmente não sinto nada, eu queria sentir...
Mas o que eu queria não sentir, será que seria eu mesma se não sentisse?
Será que ainda seria eu sem os sentimentos de dor e negação, sem os sentimentos ilusórios e desesperadores?
Eu acho, acredito de verdade, que as pessoas tem que ser infelizes. o ser humano precisa disso, e mesmo que atribuam essa infelicidade a algo ou alguém, é necessario.
Porque pra ser feliz e despreocupado, é preciso ser muito humilde.
E, sinto muito por mim mesma ao dizer isso, alguém como eu não pode entender, de verdade, como seria uma vida diferente da escuridão que vejo em cada pessoa.
Minha vida é maravilhosa...Mas ainda assim, eu sinto em sincronia apenas com quem me reflete e me guarda.
Eu sou uma estátua. Sempre no lugar errado.
E então, quando eu tenho que sentir, me sinto deslocada, me sinto pouco a vontade, e por sua vez, deixo as pessoas desconfortáveis.
E eu quero o poder de controlar, se não as minhas, as emoções das pessoas. Então eu falo, falo e falo, pra não dar espaço pras pessoas falarem e me deixarem em situações desagradáveis.
O que me envergonha?
É que quando começam a falar, eu simplesmente me desligo.
Eu acho que sou tão egocêntrica, a ponto de ser intolerável.
Quando algo não me interessa, então eu me desconecto, automaticamente. isso me incomoda.
Aliás, nem sempre quando algo não me interessa.
Sem saber por que, ou quando, eu acabo me desligando.
Como se não pudesse estar onde estou, como se não devesse..ou então, simplesmente sem saber o porque. apenas me ausento.
Mas eu não consigo me concentrar, não consigo me mostrar o suficientemente atenta, por mais que eu queira, e isso me deixa tão frustrada!!
Eu queria estar mais presente nesse mundo, menos por fora, mas como poderia?
Com eu me reprogramo?
Então, analizando bem, por esse motivo, o de não ter ou reprimir os sentimentos que tenho, eu acabo sentindo errado.
Eu choro em filmes, e vejo motivos ocultos, razões e sentimentos ocultos.
Antes eu achava que era sensível. Mas não sei o que é.
Sensibilidade não é meu forte. Muito menos a razão.
Apenas me comovo por coisas que não seria normal...ao menos não ao ponto em que me comovo.
Chorar em trailers de filme, ou em filmes, ou me refugiar nas palavras...
Sempre sentindo por outros, sentindo por meio de outros e outras coisas, sempre emprestando emoções...
Como um espelho ou uma esponja, que suga e seca, variando e dependendo de situações...
O tempo passa rápido demais, pra mim.
Talvez por não sentir, não me importar, o tempo não tenha um verdadeiro valor, um verdadeiro significado..
estou cada vez mais amarga. cética.
algo mais...
i will always miss...
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