-CLARISSE LISPECTOR;
Mais um momento, em que encaro a mim mesma na escuridão do fim do dia.
Me encaro, me desafio, quem sou eu, por que sou eu?
O que eu quero?
Esses dias eu admiti pra mim mesma, algo que nunca quis encarar. Admiti quem sou, e admiti o que não sou.
E eu não quero ser.
Então, resolvi encarar tudo o que eu nunca tive vontade de pôr os olho em..enfim.
Sou medrosa, não gosto de nenhum tipo de novidade, não gosto do inevitável e odeio de verdade mudanças repentinas.
Não sou boa, nem um pouco e de jeito nenhum, pra lidar com a pressão.
Odeio pressão.
Então, resumindo, eu vivo a vida, fugindo.
E sou hipócrita, pois digo que odeio pessoas que se refugiam em palavras e fatos pra não viver.
Mas a diferença de tudo, é que eu vivo.
Me jogo ao vento, ao sabor do mar, me vejo livre e nua nos braços do mundo.
Não me prendo a conceitos passados, não dou desculpas esfarrapadas, quero a verdade nua e crua, um tapa na cara.
Aceito que o que é, é, e o que não é, talvez nunca venha a ser.
Não me deixo cair na rotina, não deixo meu relacionamento cair na rotina, driblo e engano a vida, quando ela quer me prender. Não gosto de amarras.
Mas eu vivo escondida atrás de meus livros, atrás de meus mundos, atrás dele.
Não tomo decisões, fujo da responsabilidade, não sei lidar com a perda nem com a derrota, e não quero encarar coisas que preciso encarar, como as contas e a instalação de fios.
Gosto do vazio e da solidão,mas não sei ser só.
Gosto de inovar, mas não tudo, não de cara.
Sou adepta do jogo da sedução, dos prazeres e dos desvarios, mas aprendi com meus erros e lido com graciosidade. Sou uma selvagem.
Sou completamente dependente dele. Absurdamente.
Mas ao menos isso, eu não lamento. Nunca. e não mais.
Se deixarem, ficaria em casa todos os dias, sairia apenas nas luas cheias do meu mundo, quando quero dançar, gritar, me jogar de cara no mundo e ser a outra parte, a vergonhosa, que eu escondo.
Se deixarem, eu viveria em semi-estado de Vinicius. Afinal, quem não ama Martini?
Qualquer coisa que me deixa mais anestesiada do que eu sou, seria bem vinda, mas sou uma puritana (desperdício de palavra) e me entrego apenas aos destilados.
Soa mais sofisticado, não?
Visto máscaras e bocas, e apenas uma vez sou sincera, com uma pessoa. agora.
Não deixo que as pessoas se aproximem, não gosto delas. Apenas de seduzir, enredar, ter o poder, e pisar.
Não amo mais de um, piso em baratas.
Agora vamos voltar à minha vida, quem eu sou?
Eu decidi encarar meus medos.
Não todos, isso seria impossível.
Mas alguns, os que mais me incomodam. Os que irão me deixar na mão um dia.
Como ser humano, sou falha. Sou um produto inacabado, inadequado e mal feito.
Mas enquanto eu estou sentada enumerando os defeitos que mais amo em mim, eles me afundam nos vicios depravados.
Eu não quero me libertar.
Mas odeio a ignorância. Odeio me sentir...burra.
O que estou fazendo, jogando fora um por um, tudo?
Quero mais, quero muito mais, de tudo. de nada.
Quero meu espaço, quero nossa casa, quero nosso amor e nossas noites.
Mas não quero ter que sair e enfrentar o mundo, ter que ver e respirar a ausencia e a decadência.
Quero continuar guardada com meus medos, super protegida, mimada e aquecida.
Quero um corpo perfeito, uma mente perfeita, quero o controle remoto de tudo.
E não quero ter controle algum.
Não quero as rédeas, não quero papéis que determinam quem sou, o que sou, não quero o caminho indicado.
Quero abrir tudo com minhas mãos, rasgar a roupa da vida e deixar desnudo o que se encobre, o que se esvai sem ninguém se dar conta.
Quero não pensar. Quero não ter que pensar.
E pronto, mais um texto confuso, palavras embaralhadas e...
Quero ser sincera, mais do que sou, mais do que me é permitido.
E quero a ironia, o desprezo e a sedução.
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